A interioridade é terra sagrada. É um espaço de tal modo pessoal, de tal modo íntimo que é reservado apenas ao próprio indivíduo (e talvez a Deus). E é nesta intimidade que se atende à pessoalidade. Não de uma forma individualista, mas num olhar o cuidado do próprio. Entendo que o indivíduo per se não impere no contemporâneo e tenha de estar rodeado de outros para crescer, progredir e vencer. No entanto, continua a ser necessário olhar e cuidar o interior e o pessoal. No exercício de se retirar da efusão comunitária - de algum modo e com alguma regularidade - o indivíduo encontra descanso, percepção e entendimento. Este acto de recolhimento torna-se manutenção fundamental para a máquina social. Permite o encontro consigo próprio e é um modo de estar que ajuda a ser. A interioridade, assim, é caminho necessário para a vitalidade.

Ao olhar o meu trabalho autoral foi possível traçar uma temática, uma procura e um desejo comum. Interiormente procuro a interioridade; seja ao mostrar o particular no caos que rodeia, seja ao aceitar que a dor é um caminho individualmente partilhado. Por isso, a intenção da exposição não é valorizar o individualismo, mas incentivar a interioridade, aceitando a pessoalidade.

Este incentivo passa pela relação com a obra de arte. E neste contexto desprovido de placas distractivas com títulos, séries, autor, técnicas e ano, as obras querem tocar o espectador, querem possibilitar a experiência estética, centrando o olhar exclusivamente na mancha pictórica. Querem relacionar-se e tocar a pessoa, abrindo as portas à interioridade. A exposição, alinhada com o 6º aniversário da Loop Co., é motivada também para a ampliação daquilo que mais importa - “amplify what matters”. Atrevo-me a dizer que, num mundo movido pelo stress e pela competição, importa cada vez mais cuidar o interior de cada um. Só assim caminharemos melhor com os outros.